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os encontros com as árvores
são raridades
pérolas poucas escassas
pelos caminhos.
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tão livres são, ágeis e esguias
tão leves ao deslizar
e acolhedoras
no peito aberto em ramos
que há gentes que passam
os passos do berço à cal
na pressa indiferente gerada por vazios.
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os verdadeiros encontros
não estão / na dobra
do cansaço ou da ressaca
no aquário de luzes induzidas
à ponta da seringa
ou na deglutição.
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excessivos ou contidos
retidos ou extravasados
induzidos
— facturados —
os horizontes, fáceis, de grandeza
as falácias de potências ou evasão
sepultam e enterram sempre o sangue quente.
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os verdadeiros encontros
são horizontais.
fazem-se no olhar de frente e lado a lado
tecem-se nos tempos de incerteza
na aceitação de que a vida não é promessa
mas caminho abertura implicação incompleta
enraizada
emergente do chão.
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os encontros verdadeiros
horizontais
(sem as entrelinhas nem os asteriscos
de outro poema)
despontam sem avisar
a contratempo
antecipam-se muitas vezes
às previsões
dos baços destinos meteorológicos.
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os verdadeiros encontros
exigem tronco
desprendimento
múltiplos ramos
abertos e por abrir
sorrisos gaiatos, esgares simultâneos
cascas acamadas sobre cascas
protecção de memórias e da coragem.
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exigem? não!
pedem e contêm
pressupõem e dependem
são a variável dependente
da pausa
estremecida
no passar e no olhar
estremecidos
no face a face com o profundíssimo
altivo e simples porte
enraizado
no movimento inquieto do chão ao cosmos.
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sei do que falo
porque levo, dentro do peito
esmerado
um ninho de árvore.
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nunca mais serei
o opaco espelho vertical
da aquietação.
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maria toscano
em Coimbra, na Casa Verde, a 18 do Julho de 2011
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