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a estas horas da vida
sem pretensões
confesso que não sei o que quero.
confesso mais:
ah, sei tão bem o que quero.
a vida
por estas horas
dispensa o excesso
aprecia o ritual da mão/ das inteiras mãos
o silêncio o olhar
a íntima partilha da comoção.
por fora, mãe e pai
deram-me formas destemidas
roliças incansáveis e lutadoras
até à morte.
mas, no mais fundo do íntimo
pede-me a vida para ser inteira
exigente na verdade dos gestos
incurável no respeito
às todas e às simples coisas
como na canção da Martírio.
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pede-me, a vida, para a escolher.
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e, quem escolhe a vida
não pode ficar assim como que a meio
de uma entrada
ante uma porta entreaberta
que dependa da leitura
(meia aberta? meia fechada?).
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a estas horas da vida
sei bem que ninguém pode deixar de ser quem é
pode alguém ser quem não é?
pergunta o Sérgio na canção.
e sei bem, sem pretensões,
que me não cabe o lugar perverso
o explorar da condição humana
o esventrar de caminhos alheios.
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pede-me a vida que a escolha.
escolheu-me, a vida, ao gerar-me.
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por isso, sem pretensões,
por mais raro que seja o sentir
por mais forte que jorre o desejar
por mais mais que seja o que for
sigo neste caminho.
o que quero? é o encontro.
que já se deu sem apelos nem vestígios.
que já se impôs à revelia. sem feridas.
seguir no encontro das escritas
é o que posso.
deixo à vida a gestão de coisas e vontades
alheias.
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sigo no encontro das escritas.
sigamos, meu amor que não.
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maria toscano
em Coimbra, no 'Café Trianon'
a 18 de Julho/2011
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