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segunda-feira, dezembro 09, 2013

"Se fosse reles a minha maneira de te amar em mim..."


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"Amo-te muito, meu amor" *, mas não tão pouco
Que te cosa a bainha dos bolsos ou do anorak
Que te faça o jantar ou o almoço de véspera
Que, paciente e dedicada, te engome camisas ou calças.

Amo-te muito, meu amor, mas não tão pouco
Que te espere confiantemente ingénua de madrugada
Que te encubra perfume e odores estranhos com o meu lábio
Que te lave o desejo alheio com um roçar do meu seio.

Amo-te muito, meu amor, mas não tão pouco
Que disfarce ou esqueça as mensagens lascivas no telemóvel
Que piamente acredite em horários extraordinários
Quando a crise corrói salários, pensões e ordinários vencimentos.

Amo-te muito, meu amor, mas não tão pouco
Quanto a escrava serve o colono até se revoltar no tronco
Quanto as servas veneram o amo até se livrarem da gleba
Quanto as mulheres da vida desejam o cliente até à paga.

Amo-te muito, meu amor, mas não tão pouco.
E se também reside na dimensão e na intensidade é, sobretudo, diversa na qualidade esta emoção subtil e indizível, tão inflamada quão intemporal.
Dito Amor, este afecto incondicionado que tudo entrega, Incondicional e nada espera,
Que tudo dá e nada pede, ao invés dos contratos
Armadilhados entre sala quarto um frigorífico o fogão e
O spread do banco
e o juro europeu
e o endividamento das almas
e o evitamento do leito
e o adiamento das asas
e o enviesamento do peito
e o atordoamento dos gestos frescos e febris de intensas formas
por sentir por abraçar e ser.

Amo-te muito, meu amor, mas não tão pouco
Que te pusesse no lugar do capataz a zelar a minha faxina
Se fosse reles a minha maneira de te amar em mim.
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 * derivação de verso de Jorge de Sena:
“Amo-te muito, meu amor, e tanto…”
 .
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maria toscano
Coimbra, Casa Verde. 8-9 Dezembro /2013.

Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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