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.manuscrito da Fala.
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.a luz lenta dos areais
.incumbiu-TE o manuscrito da Fala.
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.Grânulos de marfim
.Conchas, vitrais
.Do multiplicar do breu em espera
.Do prisma do tudo côr que a côr encerra,
.Marfins evaporando delírios
.Roxos de algas evaporadas,
.Carícias do lunar no sol,
.Lábios desaguados, enseadas
.- húmus, espumas, escamas por vir -
.prostraram-se, no silêncio, na palavra
.no multiplicar de toda a côr,
.no evaporar do breu em espera:
.urgiam-TE o manuscrito da Fala.
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.dos voos ansiantes de gaivotas
.traduzi ser o Lugar
.essa a planura;
.afaguei os gatos de orientes
.afaguei a tartaruga e a formiga
.num esvoaçar a mão virou papoila
.e borboleta de asas aturdidas
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.desci dois dos degraus do precipício
.e cruzei-me com minha forma cisterna,
.dois lances de mármore abaixo
.eram suspiros
. - soltavam os que não dera -,
.desencaracolada a escada vã
.um sopro elevava-me os vestidos
.soltos, das mãos; fechados, vivos
.postigos entreabriram
.a despedida da espera.
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.cumpri as vénias exigidas
.de oscilar um riso comedido,
.pelo cordão de dúvidas e mentiras
.irompi, num passo presumido,
.meneei « - boas-vindas!» de boas-idas
.a esburacados corações ressentidos.
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.soltei pétalas por latinizar
.nos cânones de lentes emurchecidos
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.pela pérgola dos Desastres de Amor
.fui consolando bustos e sentidos
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.entrei no Derradeiro corredor
. - dos sonhos plenos, não atingidos -
.e arfei no Corpete da Verdade
.que, teimaste, vestiria sem pruridos.
.A escadaria lívida e aliviada
.Me entregou inteira ao Areal
.Grânulos de marfim
.Conchas, vitrais
.E os roxos evaporados em delírios
.Prostraram-se, no silêncio, teu Falar :
.Incumbiu-TE o vento do manuscrito.
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.e nada mais - nem côr nem coral,
.nem ceptros, diamantes
.nem vitrais,
.nem odores pelo odor entontecidos -
.nenhum nada do tudo era vital :
.que o Vital o Nada em Tudo Cria.
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.Urgiam-TE o manuscrito da Fala
.Da Fala de que foras incumbido.
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.suspensos,
.todos os tempos sem pairar
.suspensos o desvario e o equilíbrio
.cunhaste o manuscrito
.do Vital,
.da Fala, sem palavras,
.dos sentidos
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.suspensa
.a luz lenta dos areais
.incumbiu-NOS de sermos teu manuscrito:
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.nos seios, nos côncavos de nós
.nos mais íntimos e líquidos abrigos
.depositaste a Fala do não dito:
.a Fala da Fala do manuscrito.
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.podem, desde então, nascer migalhas
.de desejos pelos caminhos
.mas na suspensa e lenta
.luz do Dito
.nos areais dos sentidos sentidos
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.permaneces.
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.Rito dos Sinais.
.Rituais (que nos iniciaste)
.sem vestígios.
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. O manuscrito da ENTREGA
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.na dobra das visões te protegi.
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.com lacres de espuma
.emoldurei esta alma tresmalhada.
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.cabias redondo, ofegante.
.num murmúrio do silêncio
.me esvaí.
.doutros recantos o soro da promessa
.me recompunha em olhos e vastidão.
.Enderecei alto Muito,
.o manuscrito da ENTREGA;
.da Luz o flori, folheei,
.folheei, recortei e recomeço.
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.a funcionária sorriu-se da urgência.
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.outros pestanejam cumplicidades.
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.num recanto estás escrito
.que és pra mim;
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.do outro ressona a vaidade.
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.num papel de prata
.toca-me o aqui;
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.retalhos de notícias antiquadas
.volteiam seres-me a calamidade.
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.emoldurei esta alma.
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.tresmalhada
.te cobiço e alicio
.numa promessa de presenças,
.de poesia.
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.átomos da agonia da espera
.andam por aí à solta
.sem pruridos.
.regresso à entrada da casa
.e percebo
.meus pés fugidos, fugidios.
.levo a mão à fechadura certa
.e faltam-me os dedos dos sentidos.
.olho a sacada soberana sobre a rua
.e os passos se emaranham
.nos precipícios
.do chão, da tábua que estalou
.pla mão dos espíritos sabidos.
.na chaminé oscilam caçarolas
.esvoaçam os púcaros de asas
.livres, o repolho e a abóbora
.para o canto do ausente quintal.
.o vinho risca, a sangue, o ar
.e detém-se, lívido, ao meu passar.
.de telhas encontro o leito adormecido
.e as torneiras pedem leite ao acordar.
.nas guelras do goraz
.bailam sereias
.e dos potes de barro das azeitonas
.bandoneons : « - ¡Volver!, ¡Volver!» ressoam.
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.o doce do moscatel inaugurado
.implora, a algum pai, com Buarque:
.«este silêncio todo me atordoa
.atordoado eu permaneço atento...»
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.já os livros rodam de mãos dadas
.falam-me as letras de que gostaste:
.tacteias, mastros, juncos e crianças :
.Eugénio em acenos gravados.
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.recuo: ao fundo, o corredor,
.o baú do futuro me aguarda:
.ferrolhos do imenso linho
.corais de mar do norte
.teu entranhado incenso
.se exalam
.se exalam pelas frestas
.da não casa.
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.deslizo-me: de parede me faço em algas.
.lacres de espuma, fatais, águas e risos
.me amparam.
.e minha alma
.na dobra das visões nos acasala.
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maria toscano, A Utopia da Coragem. Viseu: Palimage Editores, 1999.
4 comentários:
sem fôlego
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genial ... !
sou suspeita...
gosto mt destes textos
(mas disseramn-me que escrevo há anos 50...)
(ainda ando para ver se percebo ...)
:-)
bem haja pelaS suaS visitaS sempre tão Fortes!
bem haja!
abraçobrancodeLuzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
"errata": disseram-me
fim da "errata"
graTa
:-)
segunda errata E ESTE ERRO É DE PALMATÓRIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
"que escrevia à anos 50"
(do francês "à la...")
GRrrrr
penitencio-me
com
as minhas desculpas
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