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quinta-feira, julho 14, 2011

eu vou com as árvores. poema 2. O Homem-Árvore

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era uma árvore.

de passada intensa

de intenso passado.

à medida que se erguia

alongavam-se os braços

ou ramos

e as raízes, frutíferas,

abarcavam cada vez mais

terra céu o mundo.

castanha. possante.

e só.

à sua volta

desejaria flores, gentes de riso

visão todos sentidos

pequenos seres esvoaçantes

uns quase voláteis

maiores seres, outros

— fiéis felinos e audazes —

ágeis seres puros

selvagens por natureza

seres seres seres seres:

a beleza.

.

mas era uma árvore

só.

.

caminhava firme

como só uma árvore o faz

como só as árvores

sabem o que é caminhar

caminhava indo e vindo

sempre constante

na intensa busca

do universo.

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a árvore, firme e mutante

possante e leve

auspiciava as marés e as quatro estações.

.

era, aliás, com a árvore

que as estações nasciam:

à medida do seu passar

com voz altiva

anunciava o libertar das folhas

a purificação do secar ao frio

rebentos indispensáveis à ritual florição

do renascer destinado ao ócio

ao ocioso estio ao sol.

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auspiciava as estações em todo o lado.

tanto trabalho tinha pelos hemisférios que,

às vezes,

pensava em desistir da vida de árvore

pois unia, à tarefa das estações,

pontualmente,

pastorear o recreio das marés:

de manhãzinha, cedo,

chamava-as para a costa;

à tardinha, terna

levava-as para casa.

ninguém imagina

os cansaços e o amor

que a árvore sentia.

ninguém saberá

os encantos e o amor

que a árvore gemia.

.

confesso não saber, agora,

do paradeiro dessa árvore

castanha e possante, firme e constante

caminheira como só as árvores sabem

dos caminhos.

se alguém a vir

que me diga por onde pára

para poder ir lá abraçar

a esse homem-árvore.

imponente

na intensa causa da vida

na recriação da luz no mundo.

.

abraçar essa imponente árvore. e só.

.

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maria toscano

em Coimbra, no ‘Café Infante’ (a 13) e nas ‘Galerias Santa Clara’ (a 14)

no Julho de 2011

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3 comentários:

Nilson Barcelli disse...

Há árvores que às vezes fogem de nós...
A tua criatividade, aliada ao teu talento, explica a excelência do teu poema. Parabéns.
Beijo, querida amiga.

emedeamar disse...

Só posso ficar muito Grata e Feliz com estas Palavras! Bem Haja! fico muito feliz se o meu texto chegou e tocou. beijinho.
(quanto às árvores que fogem: pudera, com a Moodys a fazer o que faz, imigram todas para... África, Ásia? eh eh eh :-)))))) beijinho)
mt

emedeamar disse...

errata: EMIGRAM e não Imigram :-(
bjs
mt

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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