com a
ponta dos dedos tocando a alma, escrevo.
escrevo
com o rodopio das estrelas à volta dos caracóis,
a
desenhar duas tranças misturadas com a esperança e a consolação.
escrevo
sem letras, só com poesia pura
a
escorrer dos gestos dos pulsos lisos
das
mãos lisas sem rugas outras que as do espanto.
escrevo.
semeio,
pois,
luzernas
tímidas mas firmes, intermitentes
para
enfrentarem melhor as alterações climáticas,
as oscilações
do vento da direcção de brisa e nortada
e do
tempo.
do
tempo acelerado e do calmo.
do
tempo do stress e do longo e
doce
tempo da contemplação.
escrevo
inteira rota e esvaída
em
pontos traços cintilantes e luzes brancas.
amanhã,
nada do que escrevo sobreviverá
à
fúria do mundial ou à lava do sol.
motivos
mais do que suficientes
para
tomar de novo as pontas dos dedos,
a
alma, as estrelas, a emoção e a esperança e,
sem
rugas outras que as da consolação,
abrir
de novo a voz à Poesia.
.
[poema repentista] de maria toscano.
Coimbra, (C)Asa Verde, 19 Junho / 2014.
.
2.
com a
polpa do dedo mindinho polegar e anelar
seguro
a letra inicial do verso ainda por escrever.
suporto
a perna
sustento-lhe
o arco e a base
e, com
essas polpas suaves
resguardo
o pequenino ‘a’
de um
verso de só mais 3 letrinhas
que,
um dia, ainda hei-de escrever
quando
conseguir segurá-las
com
igual doçura e carinho
com a
suave polpa de meus dedos
a
macieza de minhas mãos adultas
e a
ternura de minha alma eterna.
é só uma
questão de carinho.
é tudo
uma questão de ventos.
no
fundo, é um assunto de ar
derivado
do ar, devolvido ao ar
vindo
das nuvens mornas e invisíveis
e
entregue às nuvens azuis e aniladas.
sendo
assunto de ar, assunto de ventos
justifica-se
a extrema sensibilidade
das
letrinhas à secura da pele,
ao
nível de estrias rugosas, à aspereza ou acidez
das
polpas dos dedos escreventes
e
devotos da tarefa de casar
uma
sílaba sem dor
mas de
som similar
a uma
letrinha ‘a’ resguardada
até
encontrar o ‘m’ de seu deleite
e,
enfim, fundidos, soprarem
entre
os ventos do magnífico verso do amor.
.
© maria toscano. Inédito.
Coimbra, Café-Teatro do TAGV, 20 Junho / 2014.
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