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domingo, junho 29, 2014

enquanto falas, o silêncio.



mesmo enquanto falas há silêncio, um silêncio enorme e belo, um silêncio desejoso de tua boca na minha, de tua língua na minha para depois devir — o silêncio — marulhar de abraços asas roçando-se devagar pelas rochosas rugas dos anos disfarçados com minha alma da infância e a esperança da presente eternidade.
mesmo quando falas há asas. inquietas de tão quietas a escutar, a escutar-te e à encantada fábula por onde espreitas e te defendes, esgueirando-te pelo lado de dentro da fala.
asas quietas e trémulas no fogo brando.
há muito seco esse fogo, agora reanimado por faúlhas roxas e douradas a entrarem-me pelo ar que inspiro e a saírem-me nas palavras e lavas que aro.
silêncio trémulo de tão seguro e assombrado por tom timbre e espírito que albergas.
só mesmo as duas cadelas, sábias, para apoiar-me nesta hora milagrosa da vida.
mesmo quando falas.
mesmo quando calas.
mesmo quando olhas.
pois olhas com a fala. calas com o olhar. falas pelo silêncio.
há muito desiludido esse encantamento, agora ateado por um inefável gesto banal.
mesmo quando falas há silêncio, nasce.
um silêncio ansioso, cioso e desejoso,
o da minha boca a sonhar com os teus lábios,
o da minha língua a endereçar-se para tua face, tuas pestanas, testa e pelos finos trajectos da tua barba morena de anos, embora disfarçados com a alma da esperança — pois é tua a esperança da eternidade que intuis, aqui, por dentro do luminoso silêncio a gemer.
esse silêncio vertido em abraços há-de ser minha rosa dos ventos, ciranda e moinho do vagaroso tactear tuas rugas, do meu cioso passo por entre os nossos muitos anos aa devir juntinhos. juntinhos e baptizados no sal da trémula quieta e incansável luz: a pequenina luz bruxuleante de Sena, o sonho constante de Gedeão, o mar de Sophia, a mátria de Natália, a mãe de Eugénio, o universo de Agostinho Baptista, e a cabeça febril de Herberto confiante, sempre, nos lugares das casas e das mulheres.
podes contar com a minha alma da infância.
podes confiar na tua esperança.
mesmo enquanto falas faz-se presente
pelo silêncio
nossa estranha eternidade
neste instante da revelação.
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© maria toscano. inédito.
Coimbra, (C)Asa Verde. 29 Junho / 2014.
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Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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