mesmo enquanto falas há silêncio, um silêncio enorme e belo, um silêncio desejoso de tua boca na minha, de tua língua na minha para depois devir — o silêncio — marulhar de abraços asas roçando-se devagar pelas rochosas rugas dos anos disfarçados com minha alma da infância e a esperança da presente eternidade.
mesmo quando falas há asas. inquietas de tão quietas a escutar, a escutar-te e à encantada fábula por onde espreitas e te defendes, esgueirando-te pelo lado de dentro da fala.
asas quietas e trémulas no fogo brando.
há muito seco esse fogo, agora reanimado por faúlhas roxas e douradas a entrarem-me pelo ar que inspiro e a saírem-me nas palavras e lavas que aro.
silêncio trémulo de tão seguro e assombrado por tom timbre e espírito que albergas.
só mesmo as duas cadelas, sábias, para apoiar-me nesta hora milagrosa da vida.
mesmo quando falas.
mesmo quando calas.
mesmo quando olhas.
pois olhas com a fala. calas com o olhar. falas pelo silêncio.
mesmo quando falas há asas. inquietas de tão quietas a escutar, a escutar-te e à encantada fábula por onde espreitas e te defendes, esgueirando-te pelo lado de dentro da fala.
asas quietas e trémulas no fogo brando.
há muito seco esse fogo, agora reanimado por faúlhas roxas e douradas a entrarem-me pelo ar que inspiro e a saírem-me nas palavras e lavas que aro.
silêncio trémulo de tão seguro e assombrado por tom timbre e espírito que albergas.
só mesmo as duas cadelas, sábias, para apoiar-me nesta hora milagrosa da vida.
mesmo quando falas.
mesmo quando calas.
mesmo quando olhas.
pois olhas com a fala. calas com o olhar. falas pelo silêncio.
há muito desiludido esse encantamento, agora ateado por um inefável gesto banal.
mesmo quando falas há silêncio, nasce.
um silêncio ansioso, cioso e desejoso,
o da minha boca a sonhar com os teus lábios,
o da minha língua a endereçar-se para tua face, tuas pestanas, testa e pelos finos trajectos da tua barba morena de anos, embora disfarçados com a alma da esperança — pois é tua a esperança da eternidade que intuis, aqui, por dentro do luminoso silêncio a gemer.
esse silêncio vertido em abraços há-de ser minha rosa dos ventos, ciranda e moinho do vagaroso tactear tuas rugas, do meu cioso passo por entre os nossos muitos anos aa devir juntinhos. juntinhos e baptizados no sal da trémula quieta e incansável luz: a pequenina luz bruxuleante de Sena, o sonho constante de Gedeão, o mar de Sophia, a mátria de Natália, a mãe de Eugénio, o universo de Agostinho Baptista, e a cabeça febril de Herberto confiante, sempre, nos lugares das casas e das mulheres.
um silêncio ansioso, cioso e desejoso,
o da minha boca a sonhar com os teus lábios,
o da minha língua a endereçar-se para tua face, tuas pestanas, testa e pelos finos trajectos da tua barba morena de anos, embora disfarçados com a alma da esperança — pois é tua a esperança da eternidade que intuis, aqui, por dentro do luminoso silêncio a gemer.
esse silêncio vertido em abraços há-de ser minha rosa dos ventos, ciranda e moinho do vagaroso tactear tuas rugas, do meu cioso passo por entre os nossos muitos anos aa devir juntinhos. juntinhos e baptizados no sal da trémula quieta e incansável luz: a pequenina luz bruxuleante de Sena, o sonho constante de Gedeão, o mar de Sophia, a mátria de Natália, a mãe de Eugénio, o universo de Agostinho Baptista, e a cabeça febril de Herberto confiante, sempre, nos lugares das casas e das mulheres.
podes contar com a minha alma da infância.
podes confiar na tua esperança.
podes confiar na tua esperança.
mesmo enquanto falas faz-se presente
pelo silêncio
nossa estranha eternidade
neste instante da revelação.
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© maria toscano. inédito.
Coimbra, (C)Asa Verde. 29 Junho / 2014.
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pelo silêncio
nossa estranha eternidade
neste instante da revelação.
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© maria toscano. inédito.
Coimbra, (C)Asa Verde. 29 Junho / 2014.
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