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terça-feira, julho 29, 2014

as torradas


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enquanto não chegas viro a fatia do pão saloio já com dois dias
e espero pela função escorreita da moderna torradeira eléctrica.
se soubesse que aí estavas por perto até punha já as tuas torradas, duas,
a fazer — não muito queimadas nem muito alouradas: bem torradas, portanto.
sim, é verdade: não são horas de fazer torradas!
o cheiro enfia-se pela chaminé e vai parar ao andar de cima,
o movimento na casa, com mudança de divisão e de luzes, perturba
o ecológico e quântico sono das fiéis cadelas
e ainda lhes provoca gula, pecado sempre associado nos entes caninos
à representação manipuladora da fome
sob toda a forma de trejeitos dos olhos dos beiços das orelhas
e, mesmo, de um chiar pseudo-uivante, acertado
ao gradual deslizar na redução da distância face ao dono — no caso, à dona —
e da sempre, tão proibida quão inesperada, pata pousada no colo,
ameaça certeira do salto em duas patas, caso a intervenção da autoridade
se adie ou negligencie.
mas hoje está tudo calmo, por aqui: não te preocupes que os vizinhos
não serão despertados a meio da madrugada com ladradelas
nem uivos manhosos de cadelas mimadas como se prezam de ser os animais urbanos.
tudo isto enquanto fazia as torradas.
sim, fazia: já terminei de virar as duas fatias do pão saloio com dois dias de dureza
e a moderna torradeira eléctrica portou-se à altura.
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o que não se inventa quando o virar das páginas de um livro já não cala a saudade:
virar torradas? francamente!
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© maria toscano. [inédito]
Coimbra. (C)Asa Verde. 28 Julho / 2014.
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Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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