confesso-me cúmplice do sol/
das múltiplas pétalas em cor/
emanando ao longo da seara/
doirada ou da de ondas de sal/.
confesso ser cúmplice e aliada/
da sua irrigante companhia/
da sua estremosa presença/
tão cálida porque distante./
a Vida é mesmo esse rasgo/
perene e insistente, pois raro/
de onde brotam rugas e carícias/
que hoje endereço ao teu curto estar./
confesso-me cúmplice do sol:/
daí ter de reservar as escuras/
passagens do nocturno tempo /
para reinar ou reger as sombras/
nesta tarefa lunar de amar/
e o rei governar o fogo dos dias./
confesso-me cúmplice do Sol /
meu Amor de mim, a sua Lua fugitiva.
.
confesso-me aliada da vida
mesmo nas horas de todas as redenções:
a coragem dos ponteiros do relógio é magna
e, subtil, cativa corações magoados
ou adiados por entre ocos espelhismos.
confesso ser-me difícil acreditar
em gestos pouco secundados pelo olhar
pela pausa intensa e plena de sossego
- tanto sossego quanto o que um vulcão menino
possa albergar no topo da rendição.
.
amo todos os vulcões, aliás,
como a prosa que laboro repetidamente avisa.
.
confesso-me entalhada na vida
duradoira, persistente e tenaz.
não tenho sílabas para falas ardilosas
nem pontuação alguma para mentiras.
lá vai o tempo de apenas o verbo exacto
- bem sei. dai emergem as minhas rugas
mas este é o caminho possível
cheio de pontes herdeiras de pedras duras.
farto de gestos ácidos e enxofrados,
roto pelo avesso de traição e injúria,
estafado do encómio acrobático,
prenhe de náuseas rombos e lascas
e unhadas
e curvas rasas de tanta incompreensão.
.
confesso-me cúmplice do sol.
por isso alago a escuridão de luares
e a claridade regressa a envolver-me
de lugares de mãos e simples amores.
-
maria toscano.
Coimbra. 13 e 18 Junho / 2017
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