in poemas da rápida aproximação do cinquentenário.
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[a AMG]
venho agradecer-te — a ti, meu amor dos últimos 15 anos:
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a dádiva
a desprendida dádiva com que me foste prendando, sem nunca, porém,
teres sido a minha companhia.
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a carícia
a intensa carícia com que nos fomos envelhecendo, sem nunca, porém,
ter sido a tua parceira.
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a alegria
a radical alegria, iluminando madrugadas e horas, sem nunca, porém,
nos termos sido a nossa maior alegria.
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venho agradecer-te a precisão da palavra
irrevogável em suas suavidade e dureza
incontornável nos milhões de minutos baços
para os quais (apesar de a máquina da facturação
nos desvitavilizar as estranhas) sempre trazias uma mão cheia
de estrelinhas ou tuas mãos como surpresa —
sem que nunca, porém, tenhas sido o meu amor.
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venho agradecer-te, a ti — meu amor dos últimos 15 anos —
a nítida certeza da tua transitoriedade na minha vida,
afinal menos transitória do que se pensara.
a coragem libertária do teu lugar de passagem,
afinal mais ritualizado do que se imaginara.
mas, e acima de tudo o que possa ficar por dizer,
venho, agora, a ti, agradecer-te, por teres sido
o meu amor dos últimos 15 anos e
ainda termos palavras para dobar
ainda termos lampejos para disfarçar
ainda termos braços para recolher
ainda termos passos para desandar
ainda termos águas fogos suspiros grânulos
e sangues contidos, por partilhar
pois sabemos que o Amor aguarda a cada um de nós
pois, cada um de nós nunca, porém, foi, do outro, seu amor.
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maria toscano. © in poemas da rápida aproximação do cinquentenário.
Coimbra, Casa Verde, 2 Maio/ 2013.
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