1.
há uma mulher inquieta
diabólica ou infeliz
rolando num leito entre
o marido e o amante
“ I’ll be
your dog. Je serai
ton chien bien
charmant
Yo seré
tu perro querido.”
há uma mulher diabólica
infeliz ou inquieta
no bingo fácil da fuga
num xadrez de pedras gastas
tão gastas de já vistas
conhecidas viciadas.
há um bingo entre-pernas
(depilado? hardcore?)
“faz-se o que se pode”
“com a crise que aqui vai”
“e um homem não é de ferro”
(diz a estátua comemorativa
dos feitos da comunidade).
há uma mulher insegura
que vive do mau-alheio
sobrevive sugando os doces
açúcares nacarados
até ser desmascarada
até ser conhecido
o seu manhoso ardil
imensamente infeliz
— que não condeno nem julgo
antes abraço no respeito
pela sua solidão.
há um homem infeliz
pendente de uma mulher
digo: de raros momentos
encontros raspas e restos
pendente de situações
distante dos corações
de quem o toque ou deseje.
há essa mulher. e inexiste.
apenas é uma visão
um avatar virtual
um objecto de desejo
cinzelado pelos media as
tecnologias do corpo e
a cyborgdimensão.
essa mulher infeliz
tem olhos de rubi quente.
há também o sangue escravo
que a corteja e é vassalo
desconhecendo, os rapazes,
os poderes de inchação
simulada pela dama
e o seu poder de estupro
das almas mais cintilantes.
os rapazes hipnotizados
por seus cílios, suspendem
a revolta a indignação
o profundo do existir
e o sonho de ser amor
por onde poderão criar
o portal de saída
desse trilho de servos
escolhido e mantido
enquanto jogadores de bingo
com a mulher infeliz.
.
maria toscano. © in Poemas para uma revolução
em Abril.
Coimbra, Allô-Pizza, 11 Maio / 2013.
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