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afinal, afinal, queria ser seguido adulado comentado obsequiado aprovado reforçado — em suma: amado.
só que, ele, não o sabia.
ainda não o sabia.
tinha colaboradores, homens de mão, estátuas negras, rosadas, encarne-adas e alguns amigos que isto, quando se trata de amigos, há que desconfiar sempre se se falar em muitos.
tinha amigos.
também tinha personagens e figuras reais de onde emanavam vários dos traços, des-construídos, do que pintava. em silêncio.
afinal, afinal, queria ser amado — só que o não sabia, ainda.
ela, uma das personagens de cuja cor não há memória, fazia parte das birras narcísicas.
pudera! como havia de querer partilhar as telas, tantas vezes bamboleando, hesitantes?
ah, e convém ainda dizer que a moral da história era sempre pela negativa: nada de laços, nada de sentimentos, nada de verdades.
um dia, antes de se proteger no atelier, ele cruzou-se com uma ave branca que convidou a vir pousar no parapeito.
a ave — nascida para voar até pousar e para pousar até ao próximo voo — aparecia e pousava.
livre.
até um dia ele fechar a vidraça e as rótulas verdes.
a ave entendeu que tinha chegado o momento de voar alto para se pousar num outro algures.
mas, isto, foi o que a ave pensou. porque o porquê de ele fechar a vidraça e as rótulas verdes, nunca a ave chegou a saber — et pour cause, tão-pouco o leitor saberá.
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maria toscano © fábulas inéditas.
Coimbra, 9 Julho 2013.
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