4.
enquanto a noite se
atrasa a dar mais tempo ao fim da tarde
revejo gestos poderosos da emoção e
sobrevêm ilusão, distância, medo
enquanto o silêncio
se cala e afasta, deslizando.
o céu, despenteado,
ensina o claro-escuro
materiais
incontornáveis da vida.
entre mim e ti, um
astro.
um astronómico
sonho desmedido
indelével como
dorido o braço, dorido o abraço que não me chega
me não alcança na
via da distância
uma das maiores palavras
da emoção.
enganas-te, amor,
meu querido verbo.
enganas-te ao
condensar numa narrativa
o fluir do que pode
vir, do porvir.
dois a três exercícios
de charme
dois a três
momentos de encantamento
dois a três — mesmo
que fora um só —
o destino do meu
tempo não se resigna a ficar a ver apaixonados de época.
enganas-te, meu
querido amor:
a distância
aproxima às vezes.
e, por vezes,
continuadamente
longe, inacessível
— ou acessível
quando o mundo vai de férias —
é moldura que fere. mas Frida, já morreu.
hoje, agora, o destino
não se confina a intuir amantes habituados
que, pelo hábito,
se não separam
— ou, pelo medo,
diríamos para ser honestos,
recordando um dos gestos maiores das emoções.
enganas-te. meu verbo
querido e amoroso.
por isso tenho de
guardar, também, tal verbo: errar.
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Maria Toscano. inédito. ©
Coimbra, Casa Verde, 11 Julho/2013.
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